Produção do guaraná no sul da Bahia é maior que na Amazônia

guarana

A Bahia já tem guaraná como ninguém -o fruto é o símbolo da Amazônia, mas é em terras baianas que está a maior produção nacional.

Levada do Amazonas para a Bahia nos anos 1970, a planta se adaptou perfeitamente à região, com produções mais rentáveis por hectare, por causa do solo mais fértil e da temperatura amena à noite.

Mas, embora o sul da Bahia produza três vezes mais guaraná que toda a região Norte, no preço, a Amazônia inverte a vantagem.

O quilo do guaraná amazonense chega a ser quase três vezes mais caro que o baiano.

Para tentar virar esse jogo, os produtores baianos criaram a marca “Guaraná da Mata Atlântica”, para competir com o “Guaraná da Amazônia”, preferido por indústrias de refrigerantes, farmacêuticas e pelos países que importam o extrato.

Os amazonenses também contra-atacam com marca: pediram o registro de Indicação Geográfica (IG) do Ministério da Agricultura. O selo atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria ao produto.

Batalha do guaraná – Nessa disputa, duas cidades simbolizam os polos opostos. No Amazonas, Maués (a 276 km de Manaus) é conhecida como a terra do guaraná e abriga uma unidade da Antarctica desde 1963. Há mais de três décadas realiza um festival para festejar a colheita.

Do lado baiano, Taperoá (a 165 km de Salvador) quer tomar esse título para si, já que, em quantidade, tornou-se a maior produtora mundial há mais de uma década e também promove seu próprio festival.

A produção baiana, que superou a amazonense em 1997, já responde por 72,3% do que é cultivado no país; Acre, Pará e Mato Grosso, somados, produzem 6,4%.

“Não podemos tirar o mérito da origem do produto, mas o fato é que eles não têm a qualidade e a quantidade da nossa atividade”, afirma Gerval Teófilo, secretário-executivo da Cadeia Produtiva do Guaraná da Bahia.

A balança comercial do município aponta o avanço da safra. Em 2011, a cidade, que tem o guaraná como principal produto, exportou R$ 145 mil no total. Apenas três anos depois, esse número saltou para R$ 14 milhões. Além de Taperoá, que produz cerca de um terço do guaraná baiano, as vizinhas Valença e Nilo Peçanha também acompanham o crescimento na produção do fruto.

Em 2014, o Amazonas produziu 794 toneladas, ante 2.691 da Bahia, que concentra sua produção em cerca de dez municípios do sul do Estado, por meio de agricultores familiares.

A queda na colheita de Maués ocorreu há uma década, por causa da falta de preparo dos produtores e pelas pragas,, segundo Bruno Negreiros, secretário municipal de Produção em Maués

“Podemos não ser os maiores produtores, mas somos os melhores”, diz ele. “Nosso objetivo é a qualidade, e não a quantidade. Nosso custo de produção é mais alto, pois ele é confeccionado de maneira quase artesanal. E temos a questão ambiental, que impossibilita abrir novas áreas de floresta”, afirma.

A limpeza mais minuciosa e o uso de fornos para secar o fruto, enquanto na Bahia eles são secos ao sol, são algumas das explicações para o preço mais alto na Amazônia.

Maués enfatiza justamente a tradição. “O guaraná é mais do que nossa economia, é nossa história, nossa cultura e razão de ser.”

Enquanto isso, no mercado os baianos ganham terreno. “A Ambev [dona da marca Antarctica] compra guaraná da Bahia, mas nos pede que não façamos muito alarde, pois eles não querem perder a imagem de Guaraná da Amazônia”, diz José Alves dos Santos, presidente de uma cooperativa que produz 120 toneladas anuais em Valença (BA).

Quase um terço, segundo Santos, vai direto para a Ambev. A fabricante, em nota, diz que “apenas em momentos pontuais de eventual desabastecimento a companhia compra o guaraná produzido em regiões fora da Amazônia”.

A companhia diz, ainda, que por questões estratégicas não abre informações sobre a quantidade de guaraná que compra de cada Estado.

Segundo a Embrapa, há pouca diferença entre os guaranás baiano e amazônico.

“O guaraná do Amazonas tem um teor mais elevado de cafeína. Há diferenças no processo de produção, mas, para o extrato utilizado em refrigerantes, não há diferença alguma de sabor”, diz André Atroch, pesquisador da área de melhoramentos genéticos do guaranazeiro.

“O sabor muda quando consumido in natura, em pó. Por causa do processo de secagem, há um diferencial a favor do guaraná do Amazonas. Mas cada um faz seu marketing. Se perguntarem na Bahia, eles irão dizer que o guaraná lá é melhor.” (Matéria originalmente publicada pelo site Ariquemes Online)

 

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