O que tem de mais? Blade Runner (1982)

Blade Runner (1982): Cores e Sombras

Blade Runner é um filme de 1982, dirigido por Ridley Scott contando uma historia em um futuro despótico, um clássico da ficção cientifica. O filme tem como diretor de fotografia Jordan Cronenweth, que fez um trabalho primoroso na fotografia do filme. A fotografia realizada por ele é considerada uma das melhores na historia do cinema. Blade Runner é considerado o primeiro filme Neo noir, que iniciou uma nova fase em filmes nesse seguimento e inspirou o surgimento de diversos outros filmes Neo noir.  A trama gira em volta de Deckard, um Blade Runner recrutado para caçar os replicantes que estão ilegalmente na terra, os replicantes são seres fabricados em laboratório para trabalhar nas colônias espaciais. A terra esta decadente, as transformações ambientais acabaram com os animais e o equilíbrio da natureza, há uma superpopulação de chineses e uma noite quase eterna com constantes chuvas acidas. A complexidade desse mundo tão cheio de detalhes e nunca antes feito é que dão ao filme um aspecto de possível. Cada ambiente tem uma identidade própria e um significado a ser transmitido.

Construído como uma distopia noir futurista, a estética do filme precisou ser cuidadosamente pensada por Cronenweth e Scott. O filme é marcante no uso da fotografia noir para trabalhar o ambiente de suspense, e a clássica atmosfera policial dos filmes desse seguimento.

O uso da estética noir, aliado as cores e o ambiente futurístico, fez de Blade Runner um grande clássico, e o marco do neo noir. A narrativa diatópica se caracteriza por um mundo que deu errado e com poucas esperanças, e como toda distopia ela retrata fatos atuais extrapolados, como o preconceito e o aquecimento global que começava a ser discutido pela sociedade da época.

Cor, Fumaça e Sombras

A construção de um mundo decadente e futurista é uma das grandes marcas da fotografia do filme. Para isso foram utilizadas como referências visuais elementos presentes no mundo real e que remetessem a algo futurístico. Como os letreiros, inspirados na cidade de Xangai, a qual eles visitaram e utilizaram as cores e iluminação características desses letreiros para criar ideia de que a população asiática esta por toda parte. Para chamar a atenção para os transeuntes, ele utilizou os guarda chuvas dos pedestres, que contém um bastão de neon, iluminando seu rosto e ainda assim, não os diferenciando da massa que passava. Cronenweth diz: “As ruas estavam terrivelmente lotadas de gente, dando ao público uma imagem familiar, algo com que eles pudessem fazer uma ligação”, neste caso a intensão seria chamar a atenção para os problemas de uma superpopulação no mundo. Umas das inspirações para criar o visual futurísticos do filme foi Star Wars (1977), que é um filme com tecnologias futuristas, porem rusticas, as naves são sujas, os ambientes meio desorganizados.

O aspecto sujo e abandonado das ruas, a constante presença de fumaça, poeira e a chuva acida que corrói os prédios aos poucos, assim como o tempo corrói a alma humana. Como dito pelo próprio Cronenweth, “Usamos luzes, sombras, fumaça, chuva, relâmpagos para dar ao filme personalidade própria”. É de se observa também as cores presentes no filme, nos letreiros, por exemplo, há cores mais vivas e brilhantes, talvez para retratar a diversidade das ruas da cidade e o seu movimento intenso e com uma população multiétnica. A cor dos Neons dos guarda chuvas e a paleta de cor das pessoas os tornam apáticos, sem expressão e vivendo no fluxo.

A construção da identidade visual do filme não esta só com Jordan Cronenweth, mas também com os núcleos que trabalham diretamente ligados a fotografia, como a direção de Arte, que tem que por em cena os elementos definidos pelo diretor e pelo cinematografo. As cores e luzes da cidade, a paleta de cores dos personagens, as cenas internas e a posição dos neons, todos seguindo uma proposta de iluminação, a estética noir com cores e futurista, e que ainda remete a algo velho, com traços das décadas de 30 e 40, porém em todo o filme as cores não saltam aos olhos.

 O filme apresenta um padrão, ou um ciclo das cores na iluminação das cenas. A maioria das cenas é escura e com cores sóbrias, porém duas cores se sobressaem durante o filme, o azul e o amarelo ou dourado. Eles se alternam em prevalência nas cenas, como na mansão e no escritório do Tyrell, em que prevalece o dourado, passando a ideia de riqueza e de um ser divino. A cor azul também esta presente em vários momentos do filme e é utilizado com o intuito de contribuir com o clima de um mundo sombrio e com a ideia de noite eterna. Criando uma sensação de tranquilidade e ainda reflete a frieza de alguns dos personagens.

A fotografia de Blade Runner combina de uma forma encantadora a luz e a fumaça. Ela aparece em diversos ambientes e com diferentes propósitos narrativos. É possível notar que em varias áreas da cidade por onde o filme passa sempre tem fumaça no ambiente, ela ajuda a criar uma noção espacial nos ambientes. Além de representar a decadência de vários locais, como por exemplo, o prédio onde ocorre o clímax do filme. A fumaça também tem o papel de demonstrar a poluição das ruas. Em um âmbito geral, a presença da fumaça serve para dar textura à luz. Luz essa que parece palpável, que tem peso sobre os personagens, como se a fumaça estive-se moldando a luz.

Blade Runner é marco do cinema, com uma historia rica em subjetividade, esse um filme que fala com os espectadores de forma sutil, com ambientes marcantes e deslumbrantes. Mas a fotografia do filme o torna ainda mais agradável e leve, pois o diretor do filme soube utilizar de maneira correta o grande fotografo que tinha. A fotografia de Blade Runner engrandece a narrativa e contribui para construção desse universo fabuloso. A escolha de uma fotografia que se aproxima ao noir, mas que trás elementos futurísticos e diatópicos mostra a ousadia presente tanto em Ridley Scott quanto em Jordan Cronenweth em criarem algo novo, e por que não revolucionaria. Todos os elementos aqui analisados brevemente tem a intenção demonstrar como a construção desse filme lindo é complexa, por ter que aliar vários conceitos distintos, com um roteiro complexo como o de Blade Runner. Cronenweth disse, “não é o que você ilumina que importa, é o que você não ilumina”.

Artigo por: Fabrício Gomes

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